Zagueiro que despertou o interesse do Corinthians realizou sonho do pai e aproveita boa fase na Turquia

Helitão, de 29 anos, vive o auge da carreira pelo Göztepe e deixa futuro em aberto

heliton cred MehmetEminMenguarslan Anadolu GettyImagesFoto: Mehmet Emin Menguarslan/Anadolu/Getty Images

“Héliton ou Helitão?” Ao ser questionado antes de iniciar conversa com a reportagem, o zagueiro de 1,96 m não demonstrou dúvidas de como prefere ser chamado: “Helitão, coloca mais respeito”. A consideração desejada pelo defensor que nasceu em Mauá e subiu “degrau por degrau” até virar uma liderança dentro e fora de campo pelo Göztepe, da Turquia, porém, não fica restrita ao nome.

O camisa 5 batalhou para chegar ao patamar em que conquistou o carinho dos torcedores no leste da Europa e despertou interesse de times do Brasil e do mundo. Seus primeiros chutes foram dados nos gramados da região do ABC Paulista, muito por influência do pai, que, infelizmente, não o viu conquistar o sonho de menino.

“Eu realizei um sonho que com certeza é meu, mas maior do que o meu sonho era o sonho do meu pai que hoje já é falecido. Essa é a dor que eu tenho dentro do meu coração, que meu pai não conseguiu me ver como um jogador profissional. Ele não conseguiu. Ele faleceu em 2017. Eu já estava no profissional, mas não tinha oportunidade de jogar. Eu treinava entre os profissionais, mas ele não me viu jogar profissionalmente, assim, na arquibancada, como ele ia a todos os jogos na base”, conta em entrevista ao Terra. 

Se hoje, aos 29 anos, vive seu aufe físico e técnico, Helitão começou no Santo André e passou pelo Figueirense e ABC, antes da ida para o futebol europeu pelo Covilhã, de Portugal. A montanha continuou sendo escalada pelo CSKA 1948, da Bulgária, e, agora, pelo Göztepe, desde o começo de 2024.

“Minha carreira foi sempre buscando algo a mais, sempre subindo um degrau. Às vezes, há muitos jogadores que estão no degrau e do nada dão aquele up, sobem a escada toda. Minha vida sempre foi degrau por degrau. Fico feliz por isso, porque nisso eu aprendi muita coisa. Tive muita experiência tanto de o que fazer, quanto de não fazer”, continua.

Embora tire lições dessa escalada, o zagueiro reconhece que viveu um ‘atraso’ técnico no início da carreira devido ao tempo em que permaneceu disputando divisões menores do futebol brasileiro

“Tive algumas possibilidades de sair [do Santo André], de pegar experiências, de ter outros currículos na minha carreira, outros estímulos de futebol, outras ideias. Sair daquele ciclo do ABC. E não me deram oportunidade de sair. Com isso, o futebol vai se renovando, vai se atualizando e você vai perdendo tempo, vai perdendo o ritmo de muitas coisas. Nesse atraso, a minha chegada em Portugal, estava muito atrasado para muitas coisas. Como a minha forma de defender, a minha ocupação de espaço, essas coisas. Eu vivia num ciclo que não aprendia muito. A partir do momento que eu saí, comecei a expandir meu futebol”, admite ao falar do passado.

Hoje no físico e combativo futebol turco, Helitão se sente em casa. Porém, além da força física e do jogo aéreo, o defensor se considera um “jogador muito bom tecnicamente e com boa saída de bola”. 

Pelo Göztepe, o brasileiro funciona como zagueiro central em um esquema de três defensores. Questionado sobre posições em que pode atuar, ele recordou que já atuou pela lateral esquerda e admitiu que poderia se arriscar como volante, embora nunca tenha feito a função.

Suas boas atuações no comando da defesa da equipe turca o fizeram conquistar o carinho dos torcedores do Göztepe: “Os caras me chamam de King [Rei, em tradução livre]. É uma forma deles aqui. Chamam todo mundo de King, quem eles realmente gostam. Às vezes, veem que tem uma liderança dentro da equipe”.

Essa admiração, aliás, é recíproca entre o brasileiro e os turcos. O zagueiro considera a atmosfera dos jogos da equipe no Estádio Gürsel Aksel, em Esmir, algo único entre os times que já atuou.

“É uma coisa bizarra, cara, eu posso dizer, porque é uma torcida fanática. Porque muitos dizem que aqui na cidade de Esmir, só tem o Göztepe para você torcer, não é. Tem outros clubes, e com isso, você vê a potência, o que é a torcida do Göztepe. É uma torcida totalmente apaixonada pelo clube, que empurra a todo momento. Eu me identifiquei com isso. Eu me identifiquei com isso, eu abracei. Eu posso dizer que ganhei o respeito deles, eles também têm o meu respeito”, destaca. 

Mesmo com o carinho da torcida, estar do outro lado do mundo tem seus pequenos empecilhos. Por lá, o camisa 5 usa o inglês como meio principal de comunicação, mas, até em forma de respeito aos torcedores, fez questão de aprender algumas palavras em turco.

Para se sentir mais em casa, Helitão conta com seis companheiros brasileiros na equipe: Rômulo, Juan, Emersonn, Allan Godói, Djalma Silva, Janderson e Ruan Teixeira. Essa convivência, inclusive, deixa as coisas mais fáceis dentro de campo.

“Aumenta [o entrosamento], porque, normalmente, quando você tem comunicação dentro de campo, as coisas acontecem mais rápido e melhor. A questão da língua turca, do inglês. Agora, nem todos os brasileiros falam inglês e, quando você não tem comunicação dentro de campo, às vezes perde um segundo, enquanto o adversário ganha alguns segundos. Se todos os brasileiros jogarem de titulares, pode ser que as coisas venham a caminhar melhor. Mas, para isso, aqueles que não falam [inglês], tem que aprender também a falar. Porque somos um grupo, não somos somente sete jogadores”, explica o defensor.

No contato com os compatriotas longe de casa, o zagueiro tenta ao máximo facilitar a adaptação dos recém-chegados ao país. Esse apoio vai de dicas para escolher onde morar até com conselhos de comportamento no dia a dia. 

“Eu costumo falar, até com os meninos aqui, que é uma forma diferente. Às vezes, você tem que tomar certo cuidado com as brincadeiras que você faz. Você sabe como nós brasileiros somos”, fala sobre a convivência com os outros brasileiros da equipe.

O futuro de Helitão
Desde que chegou ao Göztepe no começo de 2024, Helitão foi peça fundamental na campanha que resultou no acesso para a primeira divisão do país e, também, na oitava colocação da Superliga no último ano. A segurança defensiva fez com que ele despertasse interesse de equipes Brasil afora. 

No caso que ganhou mais repercussão, o zagueiro foi sondado pelo Corinthians e sentiu o reconhecimento da torcida do Timão por meio das redes sociais. 

“Eu vi isso aí no meu Instagram, do nada: ‘Cara, vem para o Corinthians’. Eu falei: ‘Ué, como assim, vem para o Corinthians?’ Eu falei: ‘Vou?’ Achei que era alguém brincando. Não sei realmente o que aconteceu, o que pode vir a acontecer, mas eu fico muito feliz por isso. Só de saber que o meu nome foi citado. Isso é muito importante para mim e estou feliz que o trabalho está sendo bem feito”, afirma.

Em meio aos pedidos de torcedores e sondagens, o defensor mantém o futuro em aberto. No momento, há o interesse do Al Fateh, da Arábia Saudita, em sua contratação. Seu vínculo atual com o Göztepe é válido até julho de 2026.

“O clube da Arábia Saudita me procurou. Os caras querem contar comigo, mas o Göztepe também quer renovar. Eu não sei ainda o que vai acontecer, o mercado ainda está aberto. Pode ser que eu fique, pode ser que eu saia. Tudo depende de ambos os lados também. Aquilo que vai ser melhor, onde minha família vai se sentir mais confortável”, revela o brasileiro.

Seja ficando no Göztepe, voltando para o futebol brasileiro ou explorando um novo mercado, uma coisa é certa: Helitão quer continuar sendo importante para a equipe que vestir a camisa. 

“Tem que ser bom para mim, bom para minha família, ter a segurança, bom para o clube, se realmente eu vou ser importante para o clube, não somente um jogador. Tenho que saber aproveitar o momento que estou vivendo. Se eu sou muito importante aqui no Göztepe, às vezes um clube que, se eu for para o Brasil, tenho que ser muito importante lá também”, completa.

Fonte: Terra

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