O jogador que morou em motorhome, atuou em grandes clubes do Brasil e retoma a carreira na Série C

Em tempos de contratos curtos e mudanças constantes, esse jogador fez da mobilidade um verdadeiro estilo de vida. Literalmente.

ricabueno 180825Foto: Ricardo Bueno/Arquivo pessoal

Durante três meses, um veterano do futebol brasileiro — com passagens por grandes clubes nacionais e também por Europa e Ásia — decidiu morar em um motorhome. Estava em Natal, no Rio Grande do Norte, onde defendia o América-RN, enquanto a família permanecia em São José do Rio Preto, no interior paulista. Diante disso, então, escolheu transformar o próprio veículo em lar.

“Ele tem tudo o que eu preciso. É confortável, tranquilo. Eu posso ter meu quintal em qualquer lugar”, conta.

Mas a verdade é que essa liberdade sobre rodas diz muito mais sobre como ele vive e encara a rotina, do que apenas onde mora. “Eu vivo meu sonho todos os dias. Quero aproveitar essa dádiva que é a vida.”

Aos 38 anos, esse mesmo jogador acaba de fechar com o Ypiranga-RS, da Série C, e segue vivendo o sonho de jogar futebol profissional. Ao mesmo tempo, investe na própria escolinha, administra um complexo esportivo em Rio Preto e ainda arruma tempo para observar talentos mirins.

A decisão de seguir em frente, mesmo após tantos anos de estrada, é mais uma prova de que o atacante ainda respira futebol todos os dias. No Ypiranga, ele reencontrou o técnico Matheus Costa, com quem já havia trabalhado anteriormente — e foi justamente esse reencontro que pesou na escolha. Mais tarde, porém, no último dia 27, Costa se desligou do clube para acertar com o Guarani. No entanto, a decisão do treinador não tirou o seu brio.

“O que me trouxe até aqui foi o contato do Matheus. Temos uma relação muito boa, e, depois de ouvir o projeto do clube, fiquei ainda mais animado”, explica Ricardo Bueno. “O Ypiranga vem fazendo um ótimo campeonato. Chego para agregar com minha experiência, liderança e, principalmente, com gols.”

A expectativa de contribuir com a equipe gaúcha vem acompanhada de um senso de responsabilidade. Embora a Série C seja um território de desafios constantes, ele acredita que o elenco tem potencial para brigar pelo acesso. E, dentro de campo, pretende ser mais do que um nome experiente: quer fazer a diferença.

Ricardo Bueno e o motorhome
Antes de vestir a camisa do Ypiranga, Bueno passou por um momento turbulento no América-RN. Apesar de ter participado da campanha que resultou no título estadual, uma lesão muscular atrapalhou seus planos de sequência. Segundo ele, houve pressa na tentativa de retorno aos treinos.

“Cheguei ao América em fase final de recuperação de uma lesão na panturrilha. O clube sabia disso, mas acabou me colocando para treinar antes do previsto. Isso agravou o quadro. A partir daí, ficou difícil voltar, porque o campeonato já estava na reta final”, lamenta.

Naquele período, vivendo sozinho em Natal enquanto a família permanecia em São José do Rio Preto, Bueno adotou uma solução pouco convencional: passou a morar em seu motorhome. A experiência, segundo ele, foi mais prazerosa do que difícil.

“Na verdade, no início do ano de 2025, eu e minha família decidimos que elas ficariam em São José do Rio Preto, onde moramos realmente. Eu estava em Natal sozinho, e não fazia sentido eu ficar em uma casa grande, então, como eu já tinha o motorhome, eu decidi morar nele, e viver essa experiência diferente, que particularmente eu adoro. Mesmo porque é um motorhome grande, e tenho tudo o que preciso nele. Tem uma comodidade muito boa. E foi bem legal, faria de novo, só não fiz agora porque muito corrida a minha viagem pra cá (risos)”, conta Ricardo Bueno.

A escolha, além de prática, reflete bem o estilo de vida de um jogador acostumado a mudanças constantes — e com disposição para se adaptar.

Fiquei por três meses morando no motorhome. E posso dizer que não tive dificuldade, pois como eu disse, ele tem tudo o que precisamos. É muito confortável e tranquilo, então praticamente desfrutei de uma casa sobre rodas, onde posso ter meu quintal em qualquer lugar. Se está bom, eu fico; se está ruim e o vizinho não é legal, eu mudo de localização sem sair de casa (risos)

A carreira cheia de memórias Ricardo Bueno
Apesar das dificuldades causadas pela lesão e pelo retorno antecipado aos treinos, Ricardo Bueno não se deixou abalar. Aos 38 anos, ele sabe exatamente o que representa no futebol: um jogador que superou obstáculos, rodou por dezenas de clubes e soube se reinventar ao longo da carreira.

Desde que deslanchou no Oeste, quando foi artilheiro do Paulistão de 2010, com 16 gols, ele construiu uma trajetória que inclui passagens por Palmeiras, Grêmio e Atlético-MG, além de experiências na Dinamarca e Coreia do Sul e Tailândia. Por onde passou, acumulou boas histórias — mesmo que nem todas tenham sido fáceis.

“Tenho uma carreira cheia de memórias. Algumas muito boas, outras nem tanto, mas sou grato por tudo. Cada clube, cada jogo, cada viagem tem seu valor.”

O lado empreendedor de Bueno
Fora das quatro linhas, Bueno também construiu um novo caminho. Fundou a Arena RB, um complexo esportivo em São José do Rio Preto que reúne aluguel de campos, escolinha de futebol e treinamento funcional. O local virou ponto de encontro para quem ama o esporte — e também uma vitrine para novos talentos.

“Lugar que sempre sonhei em ter, e hoje vivo um dos meus sonhos. Lá temos aluguel de quadras e também temos escolinha de futebol e participamos de campeonatos. Em paralelo a isso, estou sempre de olho nos treinamentos e jogos dos meninos, pra quando surgir um talento, nós trabalharmos juntos pra oportuniza-los“.

A visão empreendedora reflete um pensamento que nem sempre está presente entre os jogadores em atividade. Para Ricardo Bueno, é essencial pensar no futuro ainda durante a carreira. Por isso, ele costuma conversar com os mais jovens dos elencos por onde passa.

“Esse é um assunto importantíssimo. A maioria dos jogadores vêm de realidade simples e não têm uma estrutura familiar com entendimento nesse assunto. Mas sempre que posso ajudar os mais novos, eu tento sim. É claro que alguns escutam, outros acham um papo mais chato, mas enfim, tento sempre contribuir de alguma forma”, descreve.

Vida e futebol: o amor que não para
Mesmo com tantos projetos fora de campo, se engana quem acha que ele pensa em pendurar as chuteiras. O futebol ainda o motiva — e, mais do que isso, ainda o encanta. Ao lado da família, pretende seguir aproveitando cada fase da vida, seja nos gramados ou nas estradas.

“Ah, eu ainda quero viver essa aventura que é o futebol! Eu vivo meu sonho todos os dias, então quero aproveitar ao máximo. Eu amo futebol. E com minha família queremos aproveitar juntos, viajar, conhecer ainda mais lugares, e aproveitar essa dádiva que é a vida”.

No fundo, o que move Ricardo Bueno talvez não seja apenas o futebol ou os negócios. É a vontade de estar bem consigo mesmo, onde quer que esteja. Afinal, para quem já fez da estrada um lar e da bola uma parceira de vida, o importante não é o destino — é seguir jogando com o coração no lugar certo.

Fonte: Vai pro Gol

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