Entre belezas naturais e pobreza, brasileiro carrega sonhos na África de Mandela

nascimento 220318A África tem suas muitas belezas em meio a pobreza que teima em ser um dos grandes problemas do continente. E em Pretória, hoje denominada Tshwane, há um brasileiro que carrega consigo grandes sonhos.

Na cidade em que Nelson Mandela governou um país que buscava uma nova identidade, mais longe do preconceito e das desigualdades, Ricardo Nascimento traça um caminho inusitado para quem vem de Ilhéus.

Mandela é inspiração para Ricardo brilhar


São muitos os brasileiros que sonham jogar futebol, mas não é natural que este caminho aponte para a África do Sul. Europa e Ásia são os destinos mais comuns para os brasileiros que se destacam no esporte. Ricardo traçava um caminho destes, comum, até que apareceu a oportunidade de mudar um pouco a história.

"Joguei seis anos em Portugal. O treinador da minha equipe atual já tinha conversado com meu empresário uma temporada antes de eu vir para a África do Sul, mas não deu certo. Na outra temporada, tivemos um jantar juntos e conseguimos chegar a um acordo", começa a contar, em conversa com a reportagem de oGol.

Ricardo estava na Académica, de Portugal. A decisão de mudar para a África do Sul não foi fácil, mas são os desafios que movem os homens. E no novo continente, desafios não faltam.

"Não foi uma decisão fácil, porque nunca tinha pesquisado nada sobre a África, um país que não tem a fama muito boa. A gente já estava adaptado em Portugal. Conversei muito com minha esposa e entramos em acordo. Eu queria muito disputar o Mundial de Clubes", confessa Ricardo.

Antes com poucas noções sobre o continente africano, Ricardo passou a conhecer o novo país. Em Tshwane, foi impossível não notar a presença de Mandela. Não só pela grande estátua do ex-líder sul-africano, mas pelo legado que pode ser percebido até no novo nome da cidade, Tshwane, que quer dizer "Somos todos iguais", ao invés de Pretória, que remetia a um militar responsável por um grande massacre do povo zulu.
Ele (Mandela) é um homem muito respeitado aqui, tem muitas homenagens... Acho que ele é um homem que inspira muita gente, porque lutou por coisas melhores para o seu povo e, no mundo em que a gente vive hoje, o que a gente mais quer é uma condição melhor. Acho que ele foi um homem incrível".

Um continente desafiador
Apesar de ter ajudado a iniciar uma nova era na África do Sul, com o fim do Apartheid (regime de segregação racial dominante durante muitas décadas no país), o país e o continente seguiram a sofrer com a grande desigualdade.

Quando conversou com a reportagem de oGol, Ricardo estava em Ruanda para enfrentar o Rayon Sports, pela Liga dos Campeões da África. O brasileiro relata, nas viagens que fez pelo continente, que o contraste entre as belezas naturais e a pobreza aparece em todos os locais.

"Tem vários lugares muito bonitos, mas tem muita pobreza também. Não é fácil ver isso. Minha primeira viagem foi para a Nigéria. Quando voltei para casa, estava chocado. A gente estava indo para o treino, estava chovendo e vimos umas crianças pequenas na rua. Estava alagado, e tinha um bebezinho na rua, quase o ônibus atropela. Aquela imagem não sai da minha cabeça. E as casas de madeira, quase para cair... É uma pobreza que choca", lamenta.

Apesar das dificuldades, Ricardo vai gostando da experiência no novo continente. O filho do jogador, Lorenzo, nasceu recentemente na África do Sul. O defensor defende o Mamelodi Sundowns, que é conhecido localmente como The Brazilians, ou "Os Brasileiros", pelo uniforme parecido com o da seleção brasileira.

The Brazilians lideram o campeonato sul-africano, com boa vantagem para o vice-líder, Orlando Pirates, e estão na fase preliminar da Champions africana. Através do torneio internacional, Ricardo quer realizar seu grande sonho: "Quero ganhar a Champions para jogar no Mundial".